AS LEIS DO MUNDO
Arrumo a mala imaginária.
Ao invés de roupas, mapas.
Agora já se pode sair.
Nas leis do mundo agora
só cabe amor.
Vou para a estação de trem
que invento.
Atravessei as horas
de medo e dor
e finalmente
chegarei ao destino.
Todos juntos, numa ciranda
me esperam,
na mesa os frutos
e as flores
ainda com o cheiro
da terra.
Reaprendemos juntos
os abraços, as lágrimas
de alegria.
OS MEDOS
Ao cair da tarde,
quando as últimas luzes
se esvaem,
os medos chegam
de mansinho,
como se fossem pombos
e meu coração uma praça.
Não havia um manual
para viver este tempo
de tragédias e espera.
Temos que inventá-lo
enquanto o relógio
na parede
nos conta as horas,
indiferente.
UM RELOJOEIRO
Feito um relojoeiro
em sua mesa de trabalho,
derramo meus sentimentos:
são finos fios
que atravessaram distâncias
imensas,
há um novelo onde
se agrupam os que vieram
da infância,
revejo os que partiram,
pais, mães, tios, avós,
mas deixaram suas vozes
em meus ouvidos,
como a concha que guarda
os acordes do mar.
Há os fios da alegria,
filigrana de ouro,
a tristeza grave, de prata,
a saudade e o amor
se espalham pela mesa
e são espelho.
PARA MEDIR O TEMPO
Há tantas maneiras
de medir o tempo:
relógios ,
ampulhetas,
ou coração.
Terá o tempo
de dentro
a espessura
da nota
de um violino
ou das cordas da memória ?
[Roseana Murray e Willian Amorim]
TEIA
Tudo o que conhecemos
ficará para trás.
Para tecer um outro
mundo, como a aranha
faz a teia com a sua saliva,
teremos que escolher
o que de melhor existe
em nossa aldeia
do lado de dentro.
O algodão limpo
e lavado, feixes de girassóis.
A vida será para todos,
então os nossos fios
terão que ser de sol,
de luz, de mel.
O vento do mal
já não encontrará
o seu caminho,
porque o salvo conduto
será a palavra amor.
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O psicanalista e escritor Willian Amorim |
Postado originalmente no dia 13 de Abril de 2020 às 09:13