Líria Porto – professora, poeta, natural de araguari – mg – autora dos livros borboleta desfolhada e de lua publicados em portugal em 2009, de asa de passarinho e garimpo – editora lê – 2014 e cadela prateada – editora penalux – 2016 – e do blogue tanto mar. Tem poemas publicados em vários sites, jornais e revistas, entre eles germina literatura, escritoras suicidas, mallarmargens, zunái, zona da palavra.
o visitante
já o inverno me rodeia
tece sua teia branca
finca estaca lá na porta
entra por baixo das telhas
reclama lenha coberta
arranha-me a pele
eu quieta no meu canto
ele insiste pede leite
uma dose de conhaque
chá de cravo de canela
chocolate sopa quente
agasalho meias vela
o inverno veio cedo
com seus braços magricelas
respiração ofegante
pouco cabelo
misérias
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les misérables
em noites turvas ou frias
pobres corpos se procuram
sob viadutos e marquises
nos redutos dos ratos e das aranhas
os filhos do infortúnio
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friagem
tão longas as noites de inverno
e a terra
envolta em luar e em saudade
leva-me a pensar que a vida
embora bela
cantada e decantada pelos poetas
não vale quanto pêsame
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fogaréu
há um verso intermitente
está sempre à tocaia
no espelho vejo-o avesso
nuvem negra me atrapalha
sem espada sem nobreza
submeto-me à cangalha
ele empurra o travesseiro
abro os olhos mui calada
ele deita no meu peito
quer rasgar minha mortalha
eu tão pálida tão sem jeito
ele abusa de um atalho
e se instala no meu útero
(sê poeta não te entraves
nem te escondas do crepúsculo
os vermelhos ficam grávidos)
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clausura
estar entre muros
ser própria a sepultura
a prematura morte
(o silêncio
de deus)
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Postado originalmente no dia 8 de Julho de 2017 às 19:16