EURÍALE
Caí em águas negras
Ontem à noite,
Átrio aço maciço
Penetrando o breu.
Bestas bioluminescentes
Precipitavam-se ronceiras
Farejando os nós
Entre meus seios.
Miose,
Petrifiquei papilas e ardis
Avioletando a carne
Densa de cada lábio.
Euríale, transmutei a morte
Em meu chocalho dourado,
Circunscrevi muitos nomes
Em minhas escamas.
MOIRAS
As moiras vêm à noite,
Montando frísios
Carregam víboras,
Anéis de prata,
Um olho e três destinos.
Coloquem as chaves
Nas fechaduras.
FÊNIX
A urgência corrói
Minhas asas,
Pássaro em cinzas,
Reviverei
Em voo limpo
Peito de céu aberto,
Tenho feridas
Ressequidas
Pela fúria com que
Enfrento os dias
HERA
Vim de outras eras
Erva-daninha-brava,
Urtiga-vermelha,
Saliva sumo de
Comigo-ninguém-pode.
RÉQUIEM
Um corvo
Cantará no dia do nosso
Casamento
Uniremos carne e vida
Ao grito prometeico
De quem diz estar
Para sempre atado.
Fígado exposto
Feridas abertas
Vertendo o rubro
Amor de quem se dá
Cru à presa.
VOZ
Telúrica-antropofágica
Acherontia atropos
Em voo psíquico-onírico
Mariposa posta
Em teus lábios.
__
Postado originalmente no dia 19 de Julho de 2020 às 07:37